Gerardo Daniel Manzano Gutierrez, mais conhecido como Jerry, tem 32 anos, e viveu muitas experiências pessoais e profissionais tanto em Tampico (México), cidade onde nasceu, como na Cidade do México, onde ele considera que existem mais oportunidades profissionais.
Há quatro anos, obteve o diagnóstico de autismo, e isso lhe permitiu se autoconhecer mais e entrar na Specialisterne. Nas palavras dele, para ele, tem sido fundamental contar com o apoio de seu coach para “ver as coisas de uma perspectiva diferente, porque, às vezes, no ponto de vista dele, é difícil olhar para fora e ver o que alguém pode fazer ou não”. Além disso, graças à curiosidade inata, constância e disciplina, aprendidas graças ao esporte, Jerry obteve sucesso ao longo da carreira. Hoje, ele nos conta sua história neste capítulo de “Os Especialistas”.
Formação em Turismo e Engenharia
Jerry deu seus primeiros passos acadêmicos como Técnico em Turismo Internacional, e complementou os estudos com uma preparação em Meios de Comunicação Digital. Posteriormente, foi a uma universidade prestigiada no México – “privada, porque sabia que me permitiria uma situação muito mais confortável em questões sociais”- e estudou Engenharia em Sistemas de Computação e Eletrônica.
Como Jerry nos conta, optou por esta graduação porque intuiu que lhe permitiria “uma qualidade de vida aceitável” e porque sentia “muita afinidade pelas leis da física e situações que têm a ver com fórmulas”. No entanto, também enfrentou grandes desafios durante a carreira: “A eletrônica, os circuitos e esse tipo de coisas eram mais difíceis para mim, assim como a programação, pelo tédio que representa escrever um código. Além disso, sempre foi muito difícil para mim ir do específico para o geral, e isso me representava um desafio na hora de passar nas atribuições”.
Outra das dificuldades que se destacou durante sua fase acadêmica, tanto na escola como em idades mais avançadas, são as relações sociais: “Com essas questões, eu sentia uma espécie de invasão, e não pude aproveitar bem as oportunidades para interagir. E depois, na universidade, todos já vinham com um círculo social feito, e era muito difícil me encaixar lá”.
Fast food e os meios de comunicação
Depois de acabar os estudos, Jerry quis “começar a gerar a própria renda” e encontrou um trabalho em um restaurante de fast food, onde era encarregado de tarefas polivalentes: “Às vezes, estava na cozinha, ou no caixa, ou fazendo qualquer outra coisa. Funcionou bem para me manter em uma atividade e ter uma rotina, mas me senti farto ao perceber que as tarefas começavam a ser mais difíceis, e que outros tinham menos tarefas que eu. Apesar disso, meu desempenho ali sempre foi bom”.
Posteriormente, graças à irmã, entrou como editor digital em um meio de comunicação “de relevância média-alta no México”. Fiquei lá um pouco mais de dois anos, em dois períodos de tempo distintos, e aprendi a “trabalhar sob pressão, estar acordado dia e noite nas eleições, escrever o mais rápido possível com a informação que chega a você a cada dois segundos, administrar o portal da web ou atualizar redes sociais, entre outras tarefas”.
De certa forma, no entanto, Jerry percebeu que existia “muita mentira no que se comunicava”, e se desiludiu bastante com o projeto. Ele nos conta um caso interessante dessa época: “Comecei a manter um blog com situações que não me agradavam no dia a dia, e até chamei a atenção dos meus colegas para que eles também levantassem um pouco a voz. Gerei algo incômodo na minha área, e tudo isso chegou até o dono do jornal que estava nessa filial. Eles me perguntaram o que eu queria alcançar, mas só o fiz porque parecia a coisa certa a se fazer.”
Specialisterne e oportunidade na SAP
Já na Specialisterne, Jerry trabalhou para SAP (Systems, Applications, Products in Data Processing), uma empresa alemã de Business to Business, cujo target de mercado são as grandes empresas. Nesta companhia, Jerry desempenhou um papel de Customer Facing: “Tinha que interagir constantemente com clientes, e minhas principais funções eram de consultoria nas soluções tecnológicas que a SAP oferece. Eu tinha que oferecer demonstrações padronizadas ou ad hoc customizadas de acordo com os requisitos do cliente. Além disso, a natureza dessas apresentações eram Cross LoB, ou seja, cruzadas por várias linhas de negócio, com pessoas de diferentes áreas”.
Para Jerry, foi fundamental contar com a formação da Specialisterne para entrar na SAP, já que foi muito específica para preencher os papéis dessa empresa tecnológica e, além disso, foi “muito intensiva, muito estreita, com uma grande carga diária. Isso ajudou a me preparar para o trabalho que realizaria posteriormente”. Nesta formação, os alunos aprendiam “algumas técnicas de Excel, análise de dados ou aplicação de fórmulas, e tudo isso acompanhado de uma parte socioprofissional, que hoje em dia sigo apreciando muito, sobretudo para a redação de e-mails, ou no tema da formalidade, ou para intuir situações que às vezes não estão muito claras no tema socioprofissional”.
Sobre a inclusão de autistas nos empregos, Jerry considera que na SAP fizeram um grande esforço, mas que, no México, ainda tem “um longo caminho a percorrer sobre o que é o autismo e como reduzir esse viés de ignorância que pode existir. Nesse sentido, a Specialisterne é um aliado muito bom para as empresas. No meu caso particular na SAP, algumas pessoas tiveram a responsabilidade de iniciar conversas sobre esse tema, e me deram a possibilidade de oferecer palestras sobre autismo, tanto locais como internacionais. Porém, em geral, nas empresas do México, tudo parece surgir de algum gestor interessado de forma pessoal pelo tema, e não pelos programas de inclusão per se das companhias”.
Hobbies e tempo livre
Por último, Jerry quis nos falar dos hobbies e das atividades que realiza para se sentir bem, se desconectar do trabalho e “organizar as ideias” para se concentrar melhor em suas obrigações. Nesse sentido, um dos grandes hobbies dele é a corrida: “Saio para correr cedo, e depois, se sobra tempo, faço outra sessão às tardes, além de alguns exercícios. Isso me ajuda muito a clarear meus pensamentos, a estar com meus cinco sentidos despertos para realizar entrevistas. Tornou-se quase um ofício para mim. Talvez para um neurotípico possa ajudar, mas acho que, para mim, pode ser muito mais importante para funcionar corretamente”.
Outra atividade que se sente confortável e tranquilo é ir ao cinema: “Quando estava nos eventos da Specialisterne na Cidade do México, quase diariamente ia ao cinema, e assistia a um ou dois filmes. Gosto de estar lá, em paz, assistindo algo interessante”. Jerry também nos conta que os animais de estimação dele são muito importantes para ele: “Para mim, representam uma responsabilidade, e me mantém ocupado na maior parte do dia. Passeio todas as tardes com meu cachorro, e vamos ao parque para que possa socializar e estar lá. Parece algo muito bobo, mas aprendo muitíssimo com os animais, pois eles nos ensinam coisas que às vezes não estamos dispostos a escutar”.
Por último, Jerry nos explica que seus grandes apoios para questões sociais são sua mãe, com quem teve a confiança para compartilhar seu diagnóstico; seu irmão, que lhe serve de inspiração – “ele tem uma situação pessoal mais complicada que a minha, e isso me ajuda a seguir em frente”-, e o coaching da Specialisterne: “Para mim foi muito importante o acompanhamento da Specialisterne para poder falar de certos temas, dar conta das coisas, ter uma rotina, sentir que podia me manter lá sempre. Sempre cuidaram de mim, sempre têm estado muito perto, e esse tem sido meu maior suporte”.